Não havia lugar para eles


Natal do Senhor (Missa da Noite/Missa do Dia):
Is 9,1-6 / Is 52,7-10
Sl 95 / Sl 97
Tt 2,11-14 / Hb 1,1-6
Lc 2,1-14 / Jo 1,1-18

 

            A solenidade do Natal do Senhor é a grande celebração da vinda de Deus ao mundo, para salvar o gênero humano e fazê-lo participante de sua vida divina. Os textos bíblicos ajudam a meditar sobre a grandeza deste acontecimento: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz. Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca da realeza” (Is 9,1.5). “Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,10-11). “Os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus” (Sl 97,3). “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

            Mas é importante percebermos que, embora este acontecimento seja de tanta alegria, existe também uma contradição presente nele. Por que Jesus, o Verbo feito carne, não foi acolhido como deveria? O evangelista Lucas diz que, quando “Maria deu à luz o seu filho primogênito, ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (2,7). João relata o mesmo, com palavras diferentes: “A Palavra estava no mundo – e o mundo foi feito por meio dela – mas o mundo não quis conhecê-la. Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram” (1,10-11).

            Não havia lugar para eles na hospedaria... Não havia lugar para o Cristo no mundo em que Ele nasceu! Ele é a Palavra – por Ele é que o mundo foi feito. Mas o mundo parece estar mesmo preocupado com tudo, menos com o projeto de Deus. Olhemos à nossa volta: não parece estarmos numa condição diferente. O Natal parece ser uma festa do consumismo, de reuniões familiares cheias de presentes e vazias de sentido, um feriado esperado por muitos para aumentarem sua ociosidade. Enquanto isso, nações armam-se umas contra as outras, crianças morrem por toda a terra vítimas da imigração forçada e do tráfico humano, o ser humano destrói toda a maravilha da criação cujo cuidado Deus lhe confiou...  Não há lugar para Ele na hospedaria. Ele veio para o que era seu, e os seus não o acolheram...

            Na narração do evangelho, só há um conjunto de pessoas que pôde acolher Jesus quando Ele nasceu – os pastores. Certamente porque, como Jesus, não havia lugar também para eles na cidade. É aos simples, aos desapegados de si mesmos, que Deus comunica sua graça e encontra acolhida. Esta graça “nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo, com equilíbrio, justiça e piedade” (Tt 2,12). “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8). Não é à toa que tenha sido São Francisco de Assis a redescobrir a beleza do nascimento de Jesus, ao inventar o presépio, há mais de 800 anos... Peçamos que Jesus purifique nossos corações, para que seu Nascimento encontre espaço em nós e dê sentido novo às nossas vidas.

            Um feliz e abençoado Natal a você e sua família!

 

* Para meditar as leituras desta solenidade do Natal do Senhor, acesse: Arquidiocese de Mariana.

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