Eu sou o pão da vida

19º Domingo do Tempo Comum:
1Rs 19,4-8
Sl 33
Ef 4,30-5,2
Jo 6,41-51

 

            Um dos grandes mistérios que cercam o ser humano é o da fé. “Eis o mistério da fé” – é o que escutamos a cada Santa Missa, no momento da consagração das espécies eucarísticas. Houve um tempo em que se pensava que o cristão tinha uma fé sólida apenas quando podia conhecer através de sua inteligência as grandezas da revelação divina. Era o tempo da heresia chamada “gnosticismo”, em que se pensava que a salvação vinha pelo conhecimento que um ser humano podia acumular de Deus, de forma que uma pessoa que não o possuía estava naturalmente fadada à perdição.

            É claro que a inteligência e o conhecimento acadêmico sobre Deus são muito importantes – que o digam os santos doutores da Igreja, como Agostinho, Tomás de Aquino, Teresa de Ávila... Mas a fé é muito mais! Disto nos lembram tantos de pouca formação acadêmica e grande sabedoria, santos “ao pé da porta”. A fé é, antes de tudo, um dom: dom de um Deus que se revela ao ser humano gratuitamente, um Deus que assume a nossa humanidade e se deixa encontrar. Portanto, ninguém pode ter fé se não for antes alcançado pelo amor de Deus. Aos judeus que não podiam entender suas palavras, Jesus disse: “Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai” (Jo 6,43-44).

            Mas então um outro problema surge: se é assim, Deus faz acepção de pessoas e concede a graça de ser encontrado apenas por alguns e não por outros? Isto também não parece ser verdadeiro. O dom da fé permanece um mistério, mas em Cristo, sabemos que Deus procura a cada ser humano, nada existe que escape de seu Coração. É por isto que Cristo é a chave de compreensão da história humana, inclusive da fé: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (6,51).

            Para qualquer ser humano, inclusive os desanimados, os que perderam o sentido da vida, os que não têm fé... Para todos Deus dá como alimento o seu próprio Filho que, pela Palavra e pela Eucaristia, sustenta o mundo inteiro. É preciso irmos a ele. A fé é um dom, ao qual correspondemos com a abertura do coração. Escutemos e vivamos o conselho do anjo dado a Elias: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer” (1Rs 19,7).

 

* Para meditar as leituras deste 19º Domingo do Tempo Comum, acesse: Arquidiocese de Mariana.