Ouro Preto: Nazaré ou Jerusalém?



Os evangelhos nos contam que Jesus foi a Nazaré, sua terra natal, onde suas palavras causaram admiração entre seus conterrâneos: “Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria?” (Mc 6,3). Juntamente com Belém, onde nasceu, as cidades mais importantes da vida de Jesus são Nazaré e Jerusalém. Na pequena Nazaré, Jesus passou boa parte de sua vida na simplicidade, no escondimento, sem manifestar-se como o Filho de Deus. Na cidade movimentada de Jerusalém, ao contrário, Jesus apresentou-se com toda a força de sua missão: ali foi morto e ressuscitou.

Celebrando nestes dias a festa de Nossa Senhora do Pilar, faço-me esta pergunta: Ouro Preto assemelha-se mais a Nazaré ou a Jerusalém?

Certamente a primeira impressão é a de que Ouro Preto é uma verdadeira Jerusalém. Triunfo Eucarístico, Te Deum, Coroa Pontifícia, milhares de visitantes, quilos de ouro, Semana Santa, Ordens, Irmandades... É tudo tão grandioso! A preservação do patrimônio histórico, o cuidado com as tradições religiosas, o orgulho de ser da antiga capital das Minas Gerais, tudo isso faz de Ouro Preto um lugar inusitado e pitoresco, centro de peregrinação dos mais procurados do mundo.

Mas se olharmos bem, perceberemos que Ouro Preto tem muito também de Nazaré. E “pode vir coisa boa de Nazaré?” (Jo 1,46). As grandes festas são pontuais. O povo trabalhador, a Missa “simples” das 7 da manhã, a oração do Terço, a devoção ao Bom Jesus, à Santa Cruz, a São José, o acolhimento e as conversas nas casas de telha colonial e nos morros calçados de pedra... Depois das grandes festas, fica sempre a simplicidade do dia-a-dia, vivida no escondimento do povo heroico da “mui heroica Vila Rica”.

Jerusalém ou Nazaré, qual a melhor? Cada um tire suas conclusões. Eu tenho impressão de que as duas são necessárias. A Jesus não importa o lugar: “As raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20). Aliás, tanto em Nazaré quanto em Jerusalém Jesus foi acolhido, mas também rejeitado. Não seria diferente com Ouro Preto...

E viva Nossa Senhora do Pilar!

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