Ainda não tendes fé?

 

12º Domingo do Tempo Comum:
Jó 38,1.8-11
Sl 106
2Cor 5,14-17
Mc 4,35-41

 

            Após anunciar o Reino de Deus ao povo por meio de parábolas, Jesus passa a apresentar-se mais claramente a seus discípulos através de milagres. Os milagres são importantes, mas não terminam em si mesmos – pelo contrário, eles comportam uma mensagem, apontam para algo a mais (são sinais), levando aqueles que os presenciam a refletirem sobre o seu significado. No trecho meditado neste Domingo, Jesus acalma uma forte tempestade que ameaçava afundar a barca de seus discípulos. Isto gerou grande espanto: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4,41).

            Por trás deste sinal, está uma reflexão. Só Deus tem poder sobre as forças da natureza. O mar, para as culturas antigas, é um lugar do desconhecido, dos “monstros marinhos”, do mal. Para o povo de Israel, tudo o que existe é criado por Deus, inclusive o mar, em seus limites: quem, a não ser o próprio Deus, fechou o mar com portas e marcou os seus limites? (cf. Jó 38,8-11). “Ele ordenou, e levantou-se o furacão, arremessando grandes ondas para o alto” (Sl 106,25). Ao fazer acalmar-se aquela tempestade, Jesus apresenta-se a nós como Deus, o único que tem poder sobre as forças da natureza: “Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: ‘Silêncio! Cala-te!’ O vento cessou e houve uma grande calmaria” (Mc 4,39).

            Este milagre, portanto, tem como objetivo formar e aumentar a fé dos discípulos. Jesus mesmo é quem pergunta a eles: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” (4,40). Mas quando vemos o pedido dos discípulos a Jesus para acalmar a tempestade, percebemos que eles tinham sim alguma fé, do contrário não teriam se dirigido a ele como a alguém que poderia ajudá-los: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” (4,38). A advertência que Jesus faz a eles não parece ser de que eles não tenham fé, mas de que eles tenham ainda uma fé imatura, ou seja, a confiança em um Cristo milagreiro, que teria como única função eliminar os sofrimentos e contrariedades da vida de seus seguidores.

            Uma fé madura não é assim. Jesus nos faz o apelo que fez aos discípulos: “Vamos para a outra margem!” (4,35). Na travessia de nossa vida, nossa fé se manifesta inclusive – e sobretudo – nos momentos difíceis, de tempestade e tribulação. Também neles Deus está presente! Não devemos querer manipular Deus a nossos interesses pessoais, mas abandonarmo-nos à sua vontade, sempre conscientes de sua presença junto a nós.

 

* Para meditar as leituras deste 12º Domingo do Tempo Comum, acesse: Canção Nova.

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