Rasgai o coração, e não as vestes

 

 

Quarta-feira de Cinzas:
Jl 2,12-18
Sl 50
2Cor 5,20-6,2
Mt 6,1-6.16-18

 

            Iniciamos hoje o tempo litúrgico da Quaresma. As palavras de São Paulo são bastante assertivas para se referir a este tempo: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,2). O povo fiel foi sempre consciente da importância do período quaresmal para o amadurecimento pessoal e comunitário de nossa fé. São quarenta dias, número expressivo para a Bíblia: quarenta anos de caminhada do povo de Israel pelo deserto, fugindo do Egito em direção à Terra Prometida; quarenta dias de pregação de Jonas, em Nínive; quarenta dias de permanência de Jesus no deserto... Trata-se de um número que remete à necessidade que cada ser humano tem de purificação, conversão, voltar a seu primeiro amor.

            Nas palavras do Papa Francisco, em sua mensagem para a Quaresma deste ano, “a Quaresma é o tempo de graça em que o deserto volta a ser – como anuncia o profeta Oseias – o lugar do primeiro amor (cf. Os 2, 16-17). Deus educa o seu povo, para que saia das suas escravidões e experimente a passagem da morte à vida”. Qual é, portanto, o objetivo da Igreja quando celebra a Quaresma? Preparar-nos para a Páscoa da Ressurreição, transformando-nos em criaturas novas, em seres humanos melhores. O que devemos fazer para vivermos bem este período? Sabemos bem o caminho: oração, penitência, jejum, caridade...

            Mas a liturgia desta Quarta-feira de Cinzas vai além e nos mostra também que a Quaresma será bem vivida apenas na medida em que, com nosso esforço pessoal, fugirmos de toda e qualquer “maquiagem espiritual” e nos colocarmos diante de Deus como quem realmente somos, com nossas potencialidades e misérias, pedindo que Ele transforme nosso ser. Não basta rezarmos muito, sermos penitentes e exteriormente perfeitos, se somos hipócritas (cf. Mt 6,1-6.16.18) e, dentro de nós, há apenas maldades, rancores e interesses egoístas: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus” (Jl 2,13).

            No Brasil, a Campanha da Fraternidade deste ano traz à nossa reflexão o tema “Fraternidade e Amizade Social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8). É momento adequado para examinarmos como tem sido a qualidade de nossos relacionamentos em sociedade. “Na presença de Deus, tornamo-nos irmãs e irmãos, sentimos os outros com nova intensidade: em vez de ameaças e de inimigos encontramos companheiras e companheiros de viagem. Tal é o sonho de Deus, a terra prometida para a qual tendemos, quando saímos da escravidão” (Papa Francisco). Abramos nosso coração!

           

* Para meditar as leituras desta Quarta-feira de Cinzas, acesse: Arquidiocese de Mariana.

 

* Para ler a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2024, acesse: Vatican.