70 vezes 7
24º Domingo do Tempo Comum:
Sl 102
Rm 14,7-9
Mt 18,21-35
No
capítulo 18 do evangelho de Mateus, Jesus faz seu “Sermão Comunitário”,
dando importantes ensinamentos a seus discípulos. O conselho de hoje, dado a
Pedro e a cada um de nós, é um dos mais difíceis de se colocar em prática:
perdoar sempre, “até setenta vezes sete” (18,22). Para ilustrar esta
necessidade, Jesus conta uma parábola de grande profundidade: um rei perdoa uma
dívida enorme de um de seus empregados que não tinha como lhe pagar; este mesmo
empregado perdoado, ao contrário, não perdoa “um dos seus companheiros que lhe
devia apenas cem moedas” (18,28).
Que escândalo! Como
pode alguém ser perdoado em um valor enorme e não abrir seu coração a seu irmão
que lhe deve tão pouco? É claro que Jesus está nos conduzindo a uma reflexão importante:
nossa dívida com Deus é infinita, nosso pecado é enorme, mas Ele sempre nos
perdoa, a ponto de nos resgatar com o sangue de seu próprio Filho derramado na
Cruz. Como podemos deixar de perdoar aqueles que nos magoaram numa proporção
infinitamente menor à nossa ofensa feita a Deus?
Podemos dizer que esta
parábola é a explicação mais bela daquele pedido que fazemos a cada dia, quando
rezamos o Pai-nosso: “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a
quem nos tem ofendido” (cf. Mt 6,12). Ao fazermos nosso pedido de perdão a
Deus, já o iniciamos comprometidos de que vivemos este perdão em nossas vidas,
com aqueles que estão à nossa volta, pois se alguém “não tem compaixão do seu
semelhante, como poderá pedir perdão dos seus pecados?” (Eclo 28,5). “O nosso
dever de perdoar é aqui tão salientado, que é como se Jesus nos ensinasse a
rezar assim: <Não nos perdoes, se nós ainda não fizemos a nossa parte!>”
(Dom António Couto).
Sabemos muito bem
quanto é difícil colocar este conselho de Jesus em prática. Mas o livro do
Eclesiástico (ou Sirácida), que retoma muitos temas da sabedoria grega da época
em que foi escrito, nos dá uma dica que pode ajudar a vivermos a difícil arte
do perdão: “Lembra-te do teu fim e deixa de odiar” (28,6). Talvez a meditação
sobre a morte possa nos ajudar a percebermos que não vale a pena vivermos esta
vida cheios de rixas, rancores, ódio. Se meditarmos também sobre o céu, lugar
que Deus preparou para todos (inclusive para aqueles que odiamos), poderíamos
pensar: um dia, pode ser que estas pessoas estejam lá – será que escolherei continuar a ser orgulhoso e ficar fora do céu só para não me encontrar
com eles?
* Para meditar as leituras deste 24º
Domingo do Tempo Comum, acesse: Arquidiocese de Mariana.
* Para aprofundar um pouco mais sobre o perdão incondicional de Jesus, acesse o artigo de Dom António Couto: L'Osservatore Romano.
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