O deserto é fértil
Is 49,1-6
As
leituras propostas para a “Missa do Dia” da Solenidade da Natividade de São
João Batista nos ajudam a mergulharmos no ambiente em que vivia o Precursor: o
deserto. “E o menino crescia e se fortalecia em espírito. Ele vivia nos lugares
desertos, até ao dia em que se apresentou publicamente a Israel” (Lc 1,80).
É
claro que, antes de tudo, devemos ver neste “deserto” uma descrição da
geografia da Palestina, onde viveram João Batista e Jesus: vegetação rasteira,
pouca água, paisagens áridas... Mas é evidente que João, sendo colocado pelo
próprio Jesus como o último dos profetas (cf. Lc 7,28) e, portanto, aquele que
faz a dobradiça entre o Antigo e o Novo Testamentos, é sinal também de toda a
Antiga Aliança que está aguardando, no deserto, a plenitude dos tempos, com a
chegada do Filho de Deus.
Neste
sentido, o deserto é o lugar da esterilidade (simbolizada por Isabel) e da
mudez (simbolizada por Zacarias). Sem a presença de Cristo, toda a humanidade é
estéril e tudo o que foi dito pelos patriarcas e profetas permanece sem
qualquer sentido. Mas é justamente este deserto que Deus vem visitar,
concedendo fecundidade ao que não podia gerar vida e permitindo que se diga o que até
então era impronunciável. Após a experiência da ausência, no deserto, vem o
tempo da alegria, da presença: “Cristo ressuscitou, o sertão se abriu em
flor...”.
João
Batista, assim, é símbolo de cada ser humano, que caminha pelo deserto, em
busca de entender o sentido profundo de sua existência. A dor, o sofrimento, o
cansaço, a morte... Há algum sentido para tudo isso? Contemplar a bondade de
Deus que prepara sua vinda a este mundo através do nascimento de João, um
profeta do deserto, é entender o título de um belo livro de Dom Hélder Câmara: “O
deserto é fértil”. Em geral, é da aridez e das dificuldades do dia-a-dia que
Deus tira os melhores frutos. Perseverança! “E eu disse: <Trabalhei em vão,
gastei minhas forças sem fruto, inutilmente; entretanto o Senhor me fará
justiça e o meu Deus me dará recompensa>” (Is 49,4).
Se
o deserto pode ser assim tão fértil, precisamos buscá-lo mais vezes. Num mundo
barulhento e apressado, escravo do telefone celular, a busca pelo deserto do
silêncio interior e exterior através da vida de oração é certamente a chave para
o encontro com Deus. Jesus mesmo é quem nos convida: “Vinde, vós sozinhos, para
um lugar deserto e descansai um pouco” (Mc 6,31).
* Para meditar as leituras desta Solenidade da Natividade de São João Batista, acesse: Arquidiocese de Mariana.
* Para ouvir a poesia "Partir... caminhar...", de Dom Hélder Câmara, acesse: YouTube.

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