O deserto é fértil


Natividade de São João Batista:
Is 49,1-6
Sl 138
At 13,22-26
Lc 1,57-66.80

 

            As leituras propostas para a “Missa do Dia” da Solenidade da Natividade de São João Batista nos ajudam a mergulharmos no ambiente em que vivia o Precursor: o deserto. “E o menino crescia e se fortalecia em espírito. Ele vivia nos lugares desertos, até ao dia em que se apresentou publicamente a Israel” (Lc 1,80).

            É claro que, antes de tudo, devemos ver neste “deserto” uma descrição da geografia da Palestina, onde viveram João Batista e Jesus: vegetação rasteira, pouca água, paisagens áridas... Mas é evidente que João, sendo colocado pelo próprio Jesus como o último dos profetas (cf. Lc 7,28) e, portanto, aquele que faz a dobradiça entre o Antigo e o Novo Testamentos, é sinal também de toda a Antiga Aliança que está aguardando, no deserto, a plenitude dos tempos, com a chegada do Filho de Deus.

            Neste sentido, o deserto é o lugar da esterilidade (simbolizada por Isabel) e da mudez (simbolizada por Zacarias). Sem a presença de Cristo, toda a humanidade é estéril e tudo o que foi dito pelos patriarcas e profetas permanece sem qualquer sentido. Mas é justamente este deserto que Deus vem visitar, concedendo fecundidade ao que não podia gerar vida e permitindo que se diga o que até então era impronunciável. Após a experiência da ausência, no deserto, vem o tempo da alegria, da presença: “Cristo ressuscitou, o sertão se abriu em flor...”.

            João Batista, assim, é símbolo de cada ser humano, que caminha pelo deserto, em busca de entender o sentido profundo de sua existência. A dor, o sofrimento, o cansaço, a morte... Há algum sentido para tudo isso? Contemplar a bondade de Deus que prepara sua vinda a este mundo através do nascimento de João, um profeta do deserto, é entender o título de um belo livro de Dom Hélder Câmara: “O deserto é fértil”. Em geral, é da aridez e das dificuldades do dia-a-dia que Deus tira os melhores frutos. Perseverança! “E eu disse: <Trabalhei em vão, gastei minhas forças sem fruto, inutilmente; entretanto o Senhor me fará justiça e o meu Deus me dará recompensa>” (Is 49,4).

            Se o deserto pode ser assim tão fértil, precisamos buscá-lo mais vezes. Num mundo barulhento e apressado, escravo do telefone celular, a busca pelo deserto do silêncio interior e exterior através da vida de oração é certamente a chave para o encontro com Deus. Jesus mesmo é quem nos convida: “Vinde, vós sozinhos, para um lugar deserto e descansai um pouco” (Mc 6,31).

 

* Para meditar as leituras desta Solenidade da Natividade de São João Batista, acesse: Arquidiocese de Mariana.


* Para ouvir a poesia "Partir... caminhar...", de Dom Hélder Câmara, acesse: YouTube.

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