Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!

 

Leituras:
Is 52,13-53,12
Sl 30
Hb 4,14-16; 5,7-9
Jo 18,1-19,42

 

            Jesus morreu: “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). “Inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 19,30); por isso, “tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hb 5,9). Do alto da cruz, Jesus nos dá o perdão do Pai e nos ensina a praticar o perdão em nossas vidas.

            Chega a dar um nó na garganta escutar a narrativa do Servo Sofredor feita por Isaías e notar como ela se aplica a Jesus. Na cruz, ele não tinha beleza nem atrativo, estava desprezado e era desprezível, todo coberto de dores e sofrimentos: era preciso tapar o rosto ao se passar por ele (Cf. Is 53,2s). O Filho de Deus, contudo, submeteu-se: “como cordeiro levado ao matadouro ou como ovelha diante dos que a tosquiam, ele não abriu a boca” (53,7). Narrando a Paixão, o evangelista Lucas mostra o estado de espírito de Jesus que, enquanto era crucificado, dizia: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34).

            O relato da Paixão de Cristo nos mostra que todo ser humano é capaz das atitudes mais nobres e das posturas mais degradantes: a humanidade é um fio que nos une a todos. O terrível sofrimento que causaram (e causamos) a Jesus me faz lembrar de um fato ligado à 2ª Guerra Mundial, no século passado. Cerca de seis milhões de pessoas, em especial judeus, foram exterminadas nos campos de concentração. Além da natural revolta que tal fato causou na sociedade, muitos se puseram a perguntar os motivos pelos quais a humanidade possa ter chegado a tal ponto de degradação ética. Como permitimos que isso acontecesse?

            Uma judia chamada Hannah Arendt, que passou também por este período, aproveitou o julgamento do nazista Adolf Eichmann para se questionar qual a motivação de alguém que organiza um holocausto como esse. Arendt desenvolve a hipótese de que o mal cometido por Eichmann e por qualquer outro ser humano é sempre fruto de uma irreflexão, ou seja, de uma ação que não foi devidamente pensada. Nesse sentido, podemos dizer que a escritora abre espaço para duas situações: a necessidade de sempre buscarmos refletir melhor sobre nossas ações e a abertura que devemos ter para perdoar os que nos machucaram em nossa vida, nos ofenderam: “Eles não sabem o que fazem!”. Como isso é revolucionário e libertador!

            Temos agora “um sumo-sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15). Contemplemo-lo na cruz! E que ele nos ajude a também abrirmos nosso coração à necessidade de perdoar: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”...

 

* Para meditar as leituras desta Sexta-feira da Paixão, acesse: Arquidiocese de Mariana.

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