Jesus teve fome

 


Leituras:
Gn 2,7-9; 3,1-7
Sl 50
Rm 5,12-19
Mt 4,1-11

 

            O evangelho proclamado na liturgia deste 1º Domingo da Quaresma nos apresenta Jesus no deserto, para onde foi conduzido pelo Espírito, em preparação para sua missão. Ali, Ele jejua por quarenta dias, sente fome e é tentado por Satanás.

            O tentador é sempre aquele dos caminhos mais fáceis e prazerosos: para que sentir fome, se você pode transformar pedras em pães? Para que sujeitar-se às leis deste mundo se você é o Filho de Deus? Para que esta solidão no deserto se você pode ter o domínio e a glória do mundo? Já no livro do Gênesis, a astuta serpente (figura do tentador) havia proposto caminhos mais “fáceis” à mulher: “Deus sabe que no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como Deus conhecendo o bem e o mal” (Gn 3,5).

            Jesus, ao contrário, é sempre o Servo, aquele que faz em tudo a vontade do Pai, mesmo que para isso tenha de submeter-se às provações e sofrimentos que a vida apresenta ao ser humano. Ele, Deus e homem verdadeiro, que se autodenominou como “Pão da Vida” (Jo 6,35), esvaziou-se totalmente de sua condição divina (cf. Fl 2,6-11), a ponto de sentir em sua própria carne esta necessidade tão básica do ser humano, a fome. “Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome” (Mt 4,2).

            Em Jesus, o ser humano, que era desobediente por natureza, pode viver uma nova relação com Deus: a da comunhão, que se manifesta na obediência. Em Jesus, o homem pode optar por Deus e pelos irmãos, e não mais pelos “caminhos fáceis” do egoísmo, orgulho, ódio, vícios e corrupção. “Com efeito, como pela desobediência de um só homem [Adão] a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só [Jesus], toda a humanidade passará para uma situação de justiça” (Rm 5,19).

            No Cristo que sente fome no deserto, vemos um Deus irmão, totalmente solidário à vida do ser humano, especialmente à daqueles que não têm o mínimo para sua sobrevivência. “Duas palavras que se opõem: fraternidade e fome. Onde há fraternidade, não há fome” (Pe. Luiz Faustino). Será que posso ser seguidor de Jesus e fechar os olhos para meus irmãos que sofrem esta dura condição? No final da tentação, alguns anjos se aproximaram e serviram a Jesus (cf. Mt 4,11). Em nossos tempos, à nossa volta, há tantos desses anjos que alimentam o Jesus que vive nos irmãos que têm fome...


* Para meditar as leituras do 1º Domingo da Quaresma, acesse: Liturgia - Arq. Mariana.


** Para ler o artigo do Pe. Luiz Faustino dos Santos sobre a Campanha da Fraternidade 2023, acesse: Jornal Pastoral (pág. 2).

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